quarta-feira, 16 de agosto de 2017

não-me-esqueças

em búzios
18/11/16

esta vida eu viveria. este prazer é muito impressionante. as coisas antigas (mulheres, por exemplo) atrapalham. diferentemente do vento, das nuvens, da água, da luz, das sombras, do sol. meu pensamento também atrapalha. esta vida eu viveria.

como é a mulher a quem pertence esta jaqueta? de repente, essa questão é importantíssima. (quis saber o que aquela garota anotava no caderno na areia, olhos fixos nele, um pau fincado na areia logo à frente dela: ela era linda e concentrada: preciso dessa beleza e concentração. mas não me fez mal nenhum abandoná-la. sentir quando invado, quando não. mas também quando posso ou quero invadir).

deixou para trás.

o nosso nome vai sumir. vida secreta. esta vida eu vivo. hoje foi quando o segredo ficou grande, solar?, aéreo?, luminoso? esta vida eu viveria. daria tudo por ela?

daria por ela: contra-efetuação: ela é dar. tudo é demais. tenho medo de dar tudo? acho que não posso dar tudo, porque não tenho tudo pra dar. i can't give everything away.

*

isso me faz lembrar "a estrada". as memórias da mãe que invadem o pai. mas também quando pai e filho acham o abrigo cheio de mantimentos. quando assisti, pensei: isso vai lhes dar um gosto enorme em existir, em sentir, será maravilhoso. e eles precisarão sair daí, porque não é seguro ficar em nenhum lugar.

não sei se estava certo, apesar de eles de fato terem saído.

a vida se mantém: para um outro; porque se lembra de uma vida maravilhosa: não é nostalgia: porque a maravilha da vida maravilhosa é o acontecimento.

para um outro (zé celso, grotowski): o filho para o pai (e praqueles outros quando o pai morre) e o pai para o filho.

*

chego ao beach pizza que não existe mais. chandelier num bar ao lado. vi de longe o deserto e o aperto já vinha. meu pai me falando: não tô com essa bola toda, mas aí você vem aqui e eu tiro uma onda e vamo de funghi ao vinho. bem parecido com video & chips. lá tinha a duda, nosso desamparo. aqui só eu: qual a questão?

alguém disse que o v&c tinha ido prum shopping e a gente foi procurar e não achou. e foi aquela sensação de sonho, de não procuramos direito, de precisa estar aqui em algum lugar, é o que eles disseram.

que eu e luísa poderíamos acompanhar a passagem das coisas. ou minha família. por enquanto, o exemplo da luísa é o bom. e mas agora fomos nós que passamos. apesar de algumas coisas.

e é isso. o beach pizza passou apesar desse aperto (no peito?) que me dá certeza de sua existência - não só ocorrida, mas ocorrendo. ocorrida, ocorrendo, passada, passando. a memória.

eu e luísa passamos. mas eu também passei. minha família também passou. e aqui está. eu também.

eu e luísa olhávamos o que passava. até que passamos. agora talvez as coisas aqui me olhem passar. "agora" é a cilada. sempre foi assim. é por isso que você pertence a este lugar.

*
20/11/16

esta vida eu viveria. brava maré alta, ninguém, as pedras escorregadias, como se a praia precisasse ficar sozinha - ressaca. fui por aquela ladeira esburacada. merda de gente no caminho. é sobe, desce e direita. conheço muito pouco de búzios.

pensei - pensar menos - que ferradura é mais minha família - antes de passarmos a ir na do canto. brava, luísa. ferradura, família. mas...essas coisas não significam muita coisa.

o que importa é que esta vida eu viveria.
ajudar minha vó a cuidar da casa.

*

pareceria insano que lugares que já hospedaram alegrias fulminantes pudessem ficar vazios, muito menos abandonados.

as coisas aparecem só quando aparecem? ou seria algo como: elas surgem porque já estão lá e não somem, porque permanecem.

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