quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sexo III

Sou uma mulher acima do peso. Atraente o suficiente, assim o penso, para ocasionalmente arrumar alguma coisa. Assim, às vezes chupo um pau, me comem, etc. O que significaria dizer que em termos de sexo eu provavelmente não sou problemática. Talvez então seja correto dizer isso. Também se aproximam mulheres. Eu não curto muito. Mas ok. Descobri que devo chupar bem uma boceta, o que se afigurou como algo no mínimo surpreendente para mim.  As vezes que o fiz, foi sob efeito de álcool, enfim, nada comprometedor, antes catalisando um processo do que propriamente materializando algo bizarro do nada (isto é, o álcool simplesmente adiantou algo que já ia acontecer e não em absoluto provocou um absurdo pelo qual eu não me responsabilizo), na medida em que suaviza um julgamento relativo aos efeitos do odor sobre meus sentidos, bem como da aparência monstruosa, e também de pensar antecipadamente sobre como serei vista depois de ter chupado a boceta em questão, ainda que ninguém venha a saber, isto é, supondo que eu peça à dona da genitália que não conte a ninguém, afinal de contas - eu diria envergonhada - eu nunca fizera aquilo, etc., ou algo do tipo, eu ainda teria que me conceber como alguém que chupou uma boceta. E aí algum infeliz me pergunta numa situação social casual, num tom amistoso e franco que espera reciprocidade, mas você curte mulher?, e ele acha que consegue ler minha cara, a qual estaria para além da minha resposta, ou que o meu titubeio diria mais que a minha resposta. Foda-se. Estou acima do peso. Consigo pegar grandes quantidades de pele do meu flanco e esticá-las, longe do corpo. Na direção de rasgá-las, aí um torniquete se faria necessário. Tenho medo de esticar até onde parece que é de fato capaz de ir. Sem falar que tenho medo de que não voltem para o corpo, que fiquem penduradas. Destino comum da pele. Dependurar-se. Como um saco. O corpo velho é um grande escroto. Foda-se estou acima do peso.

Ontem, por exemplo, estávamos numa festa. Aí um carinha tava olhando pra mim. Geralmente quando isso acontece, arrumo uma bebida; ou arranjo eu mesma ou peço pra alguém perto de mim arranjar. E rola alguma coisa. Qualquer coisa. É foda, eu não tinha nem meia hora de festa. Não que preferisse, sei lá, escutar a música e dançar. Não, de fato, eu prefiro foder, mas achei meio fodido da parte do maluco lá. Pelo jeito não devia ser cedo pra ele, tava com aquele olhar escroto de bêbado. Pensei ok. Talvez seja correta a postura dele. Só que tenho que entrar na vibe. Isso eu. Era meio bonito até. Pelo menos de longe. Chegou perto de mim e falou duas coisas. “Oi” e “Você...”. Disse oi depois do oi dele, e botei a mão no peito dele depois do você. Eu segurava uma dose de vodca. Botei a mão no peito dele, abri um sorriso, Segura pra mim um instante?, vou no banheiro. Ele balbuciou, Pode beber? Só se você pegar outra pra mim. Virou a porra da vodca de um gole. Deve ser um idiota. Olhei meio horrorizada praquela idiotice. Mas quando ele sorriu de cara inchada, uma gota babada escorrendo pelo queixo, sorri de volta. Foda-se. Entrei no banheiro, ergui a tampa, providenciei não sujar a bunda na bandeja mijada, papel higiênico, etc., sentei. Queria mais era cagar, mas mijei apenas. Um gesto demonstrando alguma raiva, seria. Tava tocando Lady Gaga a essa altura. And I lay in bed I touch myself and think of you. Sim, isso merecia merda.  Sei lá, acho que tem a ver. O mijo já descia e eu não tinha a paciência de tentar buscar a disposição psicofísica para um acionamento dos intestinos tão racionalmente deliberado num espaço tão comunitário quanto aquele banheiro (um acionamento que não combina muito comigo:  – 1. quero cagar; e 2. cagar, em resposta imediata. Sou do tipo: – 1. merda, preciso cagar; e 2. correr pra dar conta da solicitação fisiológica torcendo pelo final feliz). Tinha isso, o banheiro era bem perto dos ajuntamentos de pessoas chapadas. Então o cheiro ia empestear o lugar. Claro que pelo avanço do entorpecimento de corpos, o mau cheiro entraria numa conta comum, que ninguém endereçaria a mim, mas àquele corpo somatório dos corpos presentes, uma merda de vários cus juntos. Algo assim. Geralmente é mais compreensível quando alguém vomita. Enfim, destilados e gente na faixa dos vinte-trinta, tem sempre quem se foda. Se bem que rola sempre o olhar de por cima da galera que não vomita, do tipo “é, que pena a pessoa não saber seu limite”. Às vezes esse vômito é justamente uma modulação hiper soft core de um suicidiozinho. Em outros termos: foda-se o limite. Estou aqui tentando me matar e você se achando foda e lamentável o fato de que eu bebi demais e você não. Ah vai se foder. O mijo já tinha parado de sair. E eu ainda lá. Não sei por quanto tempo permaneci sentada. Umas gotas presas nos pelos. Fiquei puta porque tinha deixado a merda da vodca com o idiota lá fora. Que aliás foi realmente ajudado pelo jogo de luz e sombra da festa. Era cara de playboy regular, braço gordo de academia, dente branco esquadrinhado, cabelo cortado, cara parecendo bunda de bebê, o rosto vermelho queimado de praia duma maneira ridícula, quando até os olhos ficam vermelhos, cabelo penteado e duro tipo secado com secador. Com a língua menos pesada e pastosa deve ser daqueles rapidinhos, que fala coisas rapidinhas, solta umas piadas escrotas se achando foda pra caralho, e deve se achar o fodedor.  Assim, ele era bonito, mas meio: bonito-porque-vendeu-a-alma-pro-diabo. Algo assim. Aí eu precisava de mais vodca. Aí peidei. E pensei, hum, pode ser que eu venha a cagar de fato. Então esperei. Me ensinaram a não fazer força, que isso estraga o cu. Arrebenta o cu, estoura as veias, pra ser mais precisa. Peidei. Pensei ok, talvez role mesmo, já parecia que começava a sentir alguma coisa se anunciando no tecido do intestino, algo se movendo.

À porta ouvi sua voz novamente.

Desculpa, é, qual o seu nome? Falei qualquer nome. X., cê tá bem? Tô, e você, tá bem? Quê?, tô, é que você tá há um tempo aí. Só tem esse banheiro aqui? Hã?, não, tem outro, acho. Então o pessoal não tá aflito por conta de não poder mijar aqui né? Não. A galera tá mijando de boa então num segundo banheiro. Não, sim, eles tão ok, mas cê tá bem? Sim e você? Quê? Cara insuportável. Tá com a minha vodca aí? Tô. Cê já viu mulher pelada? Quê? Caralho. Já viu Pulp Fiction? Quê?, Pulp fiction, sei, já vi. Então, if you say what again, já viu mulher pelada? Já. Então cê entra aqui rapidinho?, vou destrancar a porta. Aí fui me levantar e caguei. Ah, haha, só um instante, já vou abrir. Tá. A voz saiu com aquele embargo de merda sendo expelida pelo cu. Ri. Esperei até tudo sair.

Levantei, olhei. Estou acima do peso. É, tinha cagado mesmo, quem diria. Destranquei a porta. Me olhou pelada, boceta, coxas, pernas, pés. Deu um sorriso escroto. Puxei pra dentro. Tranquei a porta. Peguei o copo da sua mão, mais cheio que o último, e virei. Sorri pra ele, sorriu em resposta, meti a mão na calça e peguei o pau. Já tava até meio duro e molhado. Beijei ele na boca. Mas rapidinho e tal. Fechou os olhos durante, abriu-os naquele ritmo típico sonolento. Ainda nem tinha olhado pra boca da latrina. Despenquei minha cabeça na direção, apontei com o dedo. Se liga. Ele olhou e tomou um susto, ficou sóbrio por um instante. Caralho, que nojo. Eu que fiz. Porra, que nojo. Nem limpei a bunda. O quê? Aí ele olhou pra mão, filho da puta, tinha enfiado a mão na minha bunda, e eu nem tinha sentido. Tinha merda nas pontas dos dedos, de três, sem contar o mindinho e o polegar. Perguntei. Ai, que nojo, cara, cê curte essas coisas? Eu?, achei só que você tava pelada, só querendo dar. Meditei brevemente. Se você lamber sua mão, eu te dou agora. Quê? Does Marcellus Wallace look like a bitch?, so why are you trying to fuck him? Gritei, imitando o Samuel L. Jackson, rindo. Mas isso é merda. Tô ligada. É merda, porra. E é minha, não escrotiza.

Aí uma merda de um dilema que esse idiota não esperava encontrar num sábado à noite. Se eu lamber, você me dá? Dou. Sério? Pra caralho, dou muito sério. Olhou pra mão. E se eu não lamber? Não dou, né, cara, que pergunta. Não? Não. Por quê? Hã?, cara, é simples, você lambe, eu te dou, não lambe, não te dou, fim. Tá. Devagarinho, lambeu um dedo. Urgh, que nojo, caraaalho. Não vomita. Não. Sério, não vomita. Tá, não vomito, que nojo.  Caralho, fiquei com mó tesão. Rolou um engulho nele. Deu uma babada, aqueles sons de goela, quase vomitando. Não vomita, porra. Tá, urgh... – engulho. Caralho, não vomita essa porra. Ele olhando com aquela cara de idiota pros dois dedos faltantes. Me ajoelhei, abri a calça dele e puxei o pau pra fora, já meio mole pela recondução do sangue a áreas mais capazes de lidar com a situação via inteligência aeróbica e enfiei na boca. Chupei um pouco. Ele parou, destensionou alguns músculos, deu uma gemida. Parei. Concentra aí e não vomita. Caralho. Enfiou os dedos na boca e chupou tudo, ficou bem limpo. Deu um arroto, caiu no chão e vomitou na privada. Porra. Enfiei o pau dele na minha boca, já mais duro e ocupando mais espaço.

Minha mão na minha boceta e me masturbando ao mesmo tempo. Continuou vomitando. Acho que era a conta da noite e tal. Coitado, não saber do próprio limite. Haha, tipo isso. E a merda. O pau ia ficando mais duro. E os gemidos de pós-vômito e da chupada. Vomitava curtindo a chupada. Uma hora parou de vomitar e gozou. Tremeu. Tirei o pau da minha boca e ele gozou o resto no chão. Também gozei de minha parte e por minha conta. Cuspi a porra na pia e lavei as mãos. Deixei a bunda suja mesmo. Boa noite. Beleza. Apaguei as luzes, saí do banheiro e fechei a porta. Falei com as garotas que tava indo. Já? Já, um carinha hiper maluco aí, saiu vomitando comigo no banheiro, bizarríssimo. Putz e quem é? Ah sei lá, um cara aí. Bonitinho, pelo menos? Até era, mas maluco, sabe, prefiro não. Sei, mas cê vai sozinha? Pego um táxi, tá tranquilo, tô com grana. Beleza então. Beijo. Beijo.