domingo, 18 de novembro de 2012

Estrago

Não enterrar a palavra num poema
Ou empalhá-la
Atulhando-lhe o peito
Que fica formosíssima assim
Mas morta.

Embora que pra isso
Tenha que não ter começado o que já comecei
Tenha que não ter dado o primeiro ai do resmungo que prossigo
Tenha que não ter trancado a palavra num quarto abafado sem janelas]
Tenha que não ter discordado de que ia bem a palavra sem mim
Tenha que não ter pigarreado este circunlóquio autoritário

Mesmo se acaba-se já o estrago está feito
e não adianta chorar o leite coalhado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Poema de Morte II

Curvo-me ao ferro
Que não vara-me o ventre
fica ainda acena-me
sem face sem olhos
limpo, franco
sem ranho
ranhura
Inoxidável
duro e afável e dura
deixa claro cristalino
embrulha mo intestino
que me pode furar agora
não fure embora
mas pode
me fura
quer seja
Agora
ou depois e depois e depois
tudo que sucede agora
e torna a ser agora.

curvo-me ao ferro
que não vara-me o ventre
agora e agora e agora e agora

domingo, 11 de novembro de 2012

sob véu escuro sem luz elétrica queimamos tudo numa fogueira e dançamos porque as plantas o fogo e o plástico vibravam e dado estarmos regados

dali a dias não muitos de ordinário passamos mal

soubemos pouco ser por aquilo.
pelo mal entendido
grato
gratos